Brasil Ozônio: Inovação no tratamento de rejeitos de mineração 01/11/2013

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(Revista Equipe – 01 Novembro 2013)

 

Nascida na incubadora da Universidade de São Paulo (USP) em 2005, a Brasil Ozônio desenvolve soluções de uso desse gás no tratamento de água. Recentemente, um projeto da empresa, em parceria com a Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), recebeu apoio de R$ 10 milhões do Banco para desenvolver em dois anos uma tecnologia inovadora para tratar rejeitos de uma antiga jazida de urânio das Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), em Caldas (MG). Essa solução promete resolver um dos mais graves problemas da mineração: o do tratamento de águas contaminadas pela drenagem ácida de mina (DAM).

 

Até o momento, a empresa conta com dez empregados, sendo seis de nível superior, e faturou R$ 2,56 milhões. Ela é responsável pelo sistema de tratamento da piscina da Granja do Torto e surgiu em 2000, da aproximação entre o empresário Samy Menasce e o cardiologista Edson Cezar Philippi, que aplicava ozônio no tratamento de seus pacientes e buscava permissão para usar a marca do grupo Greenpeace em seu produto.

Naquela época, Menasce, engenheiro eletrônico formado pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) e ex-diretor de uma multinacional, tinha entre seus negócios a representação da marca do grupo ecológico no Brasil. Juntos, médico e empresário desenvolveram sistemas para tratamento de suas piscinas domésticas.

Em 2004, o empresário decidiu que estava na hora de ganhar dinheiro com a tecnologia. Há 15 anos envolvido com a causa ambiental, Menasce tinha a preocupação de desenvolver soluções ecologicamente corretas para a indústria. Ele viu esse potencial na tecnologia, pois o subproduto do gás é oxigênio e, na tecnologia usada por sua empresa, a matéria-prima é o ar.

A decisão de localizar a empresa na incubadora da USP foi fundamental segundo o empresário. Foi essa proximidade que permitiu a parceria com o corpo de pesquisadores da universidade na busca de soluções para os problemas encontrados na operação dos primeiros equipamentos. Fora da incubadora, os custos e o acesso ao conhecimento tornariam impraticável o desenvolvimento de soluções inovadoras.

O resultado dessa parceria é que a empresa hoje está na terceira tecnologia de produção e na quinta geração de equipamentos. Ao contrário da concorrência, que usa oxigênio puro, o caminho escolhido é o de retirar o oxigênio do ar do ambiente e concentrar para produzir o gás. Isso diminui o custo do processo e permite a criação de equipamentos menores.

Com um processo econômico e ecologicamente correto, o carro-chefe da empresa são soluções para o tratamento da água usada na indústria. “Atualmente, cerca de 90% de nossas duas mil instalações estão na indústria, onde tratamos a água usada nos grandes laboratórios farmacêuticos do Brasil, por exemplo, bem como temos soluções para desodorizar gases”, relata Menasce.

A empresa também tem soluções para tratar a água de cidades com até 100 mil habitantes e, voltando às origens, está em processo de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) um equipamento para a esterilização de material cirúrgico.

 

Recuperar um passivo ambiental

Samy explicou que há cerca de dois anos a Brasil Ozônio foi procurada pela INB para desenvolver um projeto de tratamento para a lagoa da mina de Caldas (MG). Lá, o grande problema é a contaminação com metais pesados, principalmente manganês. Desativada em 1995, a mina produziu 1,3 mil toneladas de urânio.

O contato dos restos de mineração e de terra contidos nas pilhas de material com a água da chuva e o oxigênio do ar produz uma água ácida e rica em metais pesados, a DAM, que vai parar na lagoa da mina. Esse processo é acelerado pela presença de bactérias que vivem nas pilhas.

Por isso, o projeto tem duas vertentes. Uma é tratar um volume de água equivalente a 40% da lagoa Rodrigo de Freitas. Outra é usar o gás para controlar as bactérias que vivem nessas pilhas (ver box).

Hoje, a INB trata a água da lagoa com cal. A função desse mineral é baixar a acidez e fazer que os metais em suspensão precipitem para o fundo. Esse processo produz lama como subproduto.

A solução desenvolvida pela empresa paulista e a Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) substitui o cal pelo ozônio. Na presença do gás, as partículas de metal em suspensão oxidam e precipitam.

Na presente fase, os estudos sobre o tratamento de água com ozônio se concentram em dimensionar corretamente a necessidade de gás, bem como identificar a melhor técnica para separar os metais pesados da água. Além de manganês e urânio, há, ainda, na lama existente no fundo do lago, terras-raras, essenciais, por exemplo, para a fabricação de tablets e aparelhos de ressonância magnética.

 

Apoio do Funtec

A engenheira Odette Campos, gerente do Departamento de Meio Ambiente da Área de Meio Ambiente (AMA/DEMAM), explica que esse projeto conta com o apoio do Fundo Tecnológico (BNDES Funtec), “e essas operações sempre apoiam uma universidade associada a uma empresa, neste caso a Unesc”.

– Outra característica desse fundo é pegar uma tecnologia testada em laboratório que tenha grande potencial de sucesso e apoiar seu teste em campo, como acontece neste caso, observa a gerente.

A advogada Aline Figueiredo, da Gerência Executiva Jurídica de Meio Ambiente (AMA/JUAMA), destacou que, nessa operação, uma das especificidades foi a licença ambiental ter sido concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) após ouvir a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

– Outro aspecto desse tipo de projeto é que a beneficiária, que administra os recursos, neste caso a Fundação Parque de Alta Tecnologia de Iperó e Adjacências (Fundação Patria), não fica com a patente, que é dividida entre a empresa e a universidade em função dos recursos aportados por cada uma – sendo que o aporte do BNDES, nesse tipo de projeto, conta em favor da universidade, que ficará com 89% da titularidade, relata a advogada. A exploração econômica da tecnologia pode gerar pagamento de royalties.

 

Inovando no tratamento de resíduos sólidos

Usar o ozônio para controlar as bactérias que vivem nas pilhas de terra que existem ao lado de minas é a principal inovação do projeto da Brasil Ozônio financiado pelo Funtec. “Esses microorganismos potencializam ainda mais a presença de metais pesados”, explica o professor Elidio Angioletto, da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc).

A equipe da universidade tem bastante experiência em drenagens ácidas de mineração e projetos de recuperação ambiental. A razão disso é a contaminação da região sul de Santa Catarina pela mineração de carvão.

Junto com pesquisadores da empresa, e extraoficialmente da USP e do Instituto de Pesquisas Nucleares (Ipen), a equipe do professor catarinense desenvolve a técnica para a difusão do gás no solo.

A primeira etapa é a realização de testes preliminares, para ver como as bactérias respondem ao ozônio. Para isso, foram recolhidos micro-organismos existentes nas pilhas da mina de Caldas e levados para Criciúma (SC) e São Paulo. A previsão é de que esses testes terminem em fevereiro de 2014.

A etapa seguinte será a de teste-piloto, em uma pilha de material inerte da mineração, montada para o experimento na mina INB. Dando tudo certo, o passo final será a construção de dispositivos específicos para a difusão do gás em larga escala nas pilhas existentes, ainda em caráter experimental.

Ele explica que a técnica tem grande potencial, podendo ser aplicada ainda no tratamento de pilhas de material inerte e rejeitos da mineração de cobre, ferro e carvão.